O “chororôco” chileno

A Perda do Siroco – La Pérdida del Sciroco

Sargento Aldea_01

Por Andrés Tavolari G.

Parece que a causa desta grande perda para o Chile teria sido nada além de uma falta de vontade política ou – o que seria pior – uma falha lamentável de gestão.

No site Defensa.com (que se baseia nas informações publicadas pelo DAN), foi anunciado que o Brasil vai finalmente adquirir o navio anfíbio Siroco, único navio gêmeo do nosso Sargento Aldea (ex-Foudre). Ele será batizado de “Bahia” e vai receber o numeral G-40, para entrar em serviço no país “carioca”.

Depois de estarem interessados nele, Chile e Portugal, esta notícia é uma grande perda para o nosso país. Na verdade, a Armada – com a sua modéstia característica – já manifestara interesse no navio.

Na verdade, seu irmão gêmeo, o LSDH 91 Sargento Aldea, adquirido durante o governo de Sebastián Piñera, tem provado ser extremamente versátil, sendo utilizado extensivamente. Não só ajudou a aumentar a capacidade de dissuasão nacional, por ser capaz de embarcar um batalhão de fuzileiros navais, reforçados com todos os seus veículos e equipamentos de apoio, bem como capacidade considerável de operar helicópteros para conduzir operações anfíbias mais distantes.

Tem sido repetidamente usado como um navio hospital, em diversas operações ao longo da costa nacional. Ele também foi usado para transportar passageiros e cargas para diferentes partes do nosso extenso litoral. Finalmente, também utilizado para apoiar áreas afetadas por desastres naturais. Por exemplo, ele estava em Iquique durante o último terremoto ocorrido naquela cidade, e operando fora da costa de Atacama, alguns meses atrás.

Também realizou recentemente um exercício em Valdivia, onde embarcou nada menos do que os veículos do Corpo de Bombeiros de Santiago, demonstrando como esse tipo de unidade militar é multiplicadora de força, com importância verdadeiramente estratégica, não apenas na guerra, mas também na Paz.

Tendo dois navios deste tipo, o nosso país teria a certeza de ter sempre pelo menos com um deles em serviço, enquanto o outro se encontra no seu período necessário de manutenção. Por outro lado, adquirindo o Siroco, por serem da mesma classe, facilitaria o treinamento, a logística e o planejamento.

O Sargento Aldea custou cerca de US$ 70 milhões. O Siroco, por ser mais novo, pode ter custado talvez um pouco mais. Mas, assim como seu irmão gêmeo, ele teria ajudado a aliviar imediatamente o déficit hospitalar nacional, uma das promessas de campanha que a presidente Bachelet já disse que não irá cumprir.

Diante do exposto, pode-se imaginar por que isso aconteceu. Por que o Chile não adquiriu o Siroco? Estava a Armada interessada nele? Aparentemente, sim. Tinha dinheiro para comprá-lo? É do conhecimento público que a lei de reservas do cobre pode ultrapassar alguns bilhões de dólares. Houve alguma outra necessidade militar mais iminente para investimento? Sabemos que não. Pode ser que eu não quisesse mexer nesses fundos, de modo que o seu investimento não fosse aumentar o déficit fiscal? É possível, mas, nesse caso, poderia ter sido usado algum tipo de financiamento bancário, com uma garantia de “back-to-back”, como tem sido feito em outras ocasiões. Estaria o Chile com muitos gastos em relação aos seus investimentos em Defesa? Não, pois Sebastian Piñera deixou o setor muito saudável. Será que este navio iria fornecer uma capacidade desnecessária ou redundante? Não, de acordo com o que é discutido acima.

Descartadas todas as perguntas supracitadas, parece que a causa provável desta grande perda para o Chile, teria sido nada mais do que a falta de vontade política ou – o que seria pior – uma lamentável incapacidade de gestão.

Eu digo que pode ser tremendamente injusto, porque podem ser afirmações completamente erradas. No entanto, a ausência de uma Estratégia Nacional de Segurança e Defesa, que dê conta da nossa política de Defesa, os objetivos de segurança que temos previstos à alcançar, das ameaças que enfrentamos e as formas que escolhemos para superar, de modelos de desenvolvimento que buscamos implementar, dos meios necessários para o acima exposto, e que se traduz em planos de investimento devidamente priorizados, seria atribuir – em uma discussão parlamentar madura e com visão aberta, que responda a uma verdadeira política de estado – os recursos orçamentários necessários para tais investimentos, mantendo o fundo de reserva que seja apropriado, e permitindo a liberação dos demais recursos.

Isso, de modo algum é fácil de implementar na nossa realidade: a lei de reservas do cobre isentou a nossa classe política de discutir questões mais importantes, mas impopulares em um país com recursos limitados: que Defesa nós queremos, para o que e quanto queremos investir nela.

Por se tratarem de enormes investimentos de recursos públicos, essas decisões devem ser tomadas de forma pública, com plena identificação dos responsáveis. O segredo deve ser restrito a não mais do que o essencial: os planos, o nível de formação das forças, seu grau de preparação, o nível de eficácia dos meios e os níveis logísticos existentes.

Através dos mecanismos expostos, com quase certeza de que teríamos visto o “Siroco” navegar sob a bandeira nacional, ou – na situação atual – saberíamos exatamente o por que de não ter ocorrido e nós não estaríamos às cegas.

FONTE: IED Centro de Investigacion En Defensa
TRADUÇÃO E ADAPTAÇÃO: Defesa Aérea & Naval

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