Por que a França enviou tropas para lutar na República Centro-Africana

Patrulha de soldados franceses na capital, Bangui. FOTO:SIA KAMBOU/AFP
Patrulha de soldados franceses na capital, Bangui. FOTO:SIA KAMBOU/AFP

Na semana passada, o Conselho de Segurança da ONU autorizou uma intervenção militar francesa no país africano. Segundo franceses, República Centro-Africana está “à beira do genocídio”

Em menos de um ano após enviar tropas para o Mali, em janeiro de 2013, a França se envolve em mais um conflito militar na África. O país em questão, agora, é a República Centro-Africana. Na última quinta-feira (5), uma resolução aprovada pelo Conselho de Segurança da ONU permite que a França e a União Africana utilizem a força, se necessário, para proteger as vidas de civis no país.

Apesar de ser rico em ouro e diamante, a República Centro-Africana é um dos países mais pobres e instáveis da África. A mais nova onda de violência no país começou em março deste ano. Após o fracasso de uma negociação de paz entre o governo e o grupo de rebeldes Seleka, os rebeldes sitiaram a capital, Bangui, e derrubaram o governo do presidente François Bozize, que buscou exílio em Camarões. Os rebeldes ordenaram um toque de recolher na capital. O líder dos Seleka, Michel Djotodia, se declarou o novo presidente e suspendeu a Constituição e o Parlamento.

A ascensão dos rebeldes colocou um novo elemento na instabilidade no país: o conflito religioso. A maioria da população local é formada por cristãos, enquanto os Seleka são muçulmanos. Nos últimos meses, um grupo de cristãos se reuniu em torno de uma milícia batizada de Anti-Balaka. “Balaka” significa machete, um facão que é símbolo dos Seleka. Essa mílicia passou a atacar comunidades muçulmanas do país, sejam eles envolvidos com o atual governo ou não, em nome do presidente deposto. Há relatos de muçulmanos linchados e apedrejados.

Segundo correspondentes e organizações como os Médicos Sem Fronteiras, o país vive praticamente uma situação de anarquismo. As ruas de Bangui estão desertas, a população local abandonou suas casas em busca de refúgio, e crimes de guerra e atrocidades contra civis são cometidos pelos dois grupos envolvidos no conflito.

Em novembro, ao pedir apoio para uma intervenção, o ministro de Relações Exteriores da França, Laurent Fabius, comparou a situação do país com o genocídio em Ruanda em 1994. “A República Centro-Africana está à beira do genocídio”, disse Fabius à TV francesa. “É a desordem absoluta. São apenas sete cirurgiões para 5 milhões de habitantes, mais de um milhão de pessoas não têm o que comer, e há gangues e bandos armados nas ruas”. Segundo a Cruz Vermelha, cerca de 400 pessoas morreram em confrontos desde quinta-feira.

Com o aval do Conselho de Segurança da ONU, a França enviou 1.600 soldados para a República Centro-Africana com o objetivo de desarmar as milícias. A ordem de desarmamento foi lida no rádio e o atual presidente, Djotodia, exigiu que os Seleka voltassem aos quartéis. Sua ordem, no entanto, não foi cumprida, e a expectativa é de novos confrontos nos próximos dias. Enquanto isso, a ONU estima que mais de 400 mil pessoas deixaram suas casas desde o início do conflito, das quais 68 mil buscaram refúgio em países vizinhos.

FONTE: Revista Época

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