Reconstrução da estação brasileira na Antártica na fase final

Mais de 200 funcionários trabalham na obra da nova estação prevista para ser inaugurada em março de 2019.

Por Taciana Moury

As obras da nova Estação Antártica Comandante Ferraz (EACF) estão acontecendo em ritmo intenso no continente antártico. A empresa responsável pela obra precisa aproveitar o verão na região para dar andamento à quarta e última fase dos trabalhos. Oficiais da Marinha do Brasil (MB) e de outros órgãos do governo brasileiro acompanham o serviço desde o início das atividades, em 2016. A estação brasileira sofreu um incêndio em 25 de fevereiro de 2012 e teve sua estrutura totalmente destruída.



Segundo o Capitão-de-Mar-e-Guerra (R) da MB Geraldo Gondim Juaçaba Filho, assessor especial para a reconstrução da EACF, até o final do verão antártico, no dia 31 de março de 2018, será concluída a montagem do bloco oeste e das unidades isoladas de telecomunicações, meteorologia e VLF (sigla em inglês para Very Low Frequency, frequências ultra baixas). “Os blocos técnico e leste, bem como as demais unidades isoladas só serão montados no próximo verão, no período de outubro de 2018 a março de 2019, quando tudo já deve estar concluído”, antecipou.

A estrutura que está sendo erguida na Antártica foi fabricada na sede da empresa encarregada e correspondeu à terceira fase da reconstrução, realizada de março a novembro de 2017. “Os pilares, as estruturas e os contêineres que constituem os blocos, além dos módulos isolados, do paiol de materiais perigosos, de mergulho e salvatagem e de lavagem de sedimentos, foram montados e testados anteriormente, para depois serem desmontados, catalogados e embarcados com destino ao continente antártico no navio Magnólia, fretado pela empresa, para que fossem levados ao local da instalação”, contou o CMG Geraldo.

A MB mantém quatro oficiais engenheiros como fiscais e 15 militares que compõem o efetivo do Grupo Base na Antártica; o Ministério do Meio Ambiente disponibilizou dois fiscais do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis; e a empresa contratada conta com 212 funcionários, além da tripulação do navio Magnólia. “Oficiais da Marinha estão fiscalizando os canteiros de obras tanto na sede da empresa como na Antártica, sendo que no continente antártico a fiscalização é reforçada pelos fiscais designados pelo Ministério do Meio Ambiente”, esclareceu o CMG Geraldo.

O CMG Geraldo explicou que a obra tem características muito específicas e algumas dificuldades tiveram que ser administradas desde o início da reconstrução. “O continente antártico é muito isolado – às vezes são necessários 45 dias de viagem de navio para que a carga, com o material fabricado, chegue ao local da montagem”, disse.

Reconstrução realizada por fases

A obra, que custou US$ 99,6 milhões, foi planejada para ser executada em quatro fases distintas e consecutivas, sendo duas de fabricação e pré-montagem na sede da empresa e duas de montagem na Antártica. Na primeira fase de pré-montagem, de março a novembro de 2016, todas as fundações do prédio principal foram pré-montadas e um modelo em escala natural foi construído.

Durante o verão, de dezembro de 2016 a março de 2017, foi realizada a segunda fase, que correspondeu ao início das atividades na Antártica. Foi feita a montagem das fundações e a instalação de um canteiro de obras, com um alojamento para 72 pessoas e uma plataforma com guindaste para agilizar o desembarque de material do navio fretado pela empresa.

“As fases estão ocorrendo dentro do planejado, até o momento”, informou o CMG Geraldo, e acrescentou que a expectativa é a de finalizar a quarta fase em março de 2019. “Mas, na Antártica nem sempre é possível garantir os prazos. Lá, o que dita o ritmo da obra é o clima e a distância do comércio. Mesmo no verão antártico, ventos fortes e nevascas podem interromper os trabalhos durante dias e a substituição de uma peça ou equipamento danificado no transporte pode levar semanas para ser finalizada”, explicou.

A MB apoia pesquisadores durante a reconstrução

 

O Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) informou em nota à Dialogo que as pesquisas brasileiras na Antártica continuaram, mesmo após o incêndio, e foram executadas no Laboratório dos Módulos Antárticos Emergenciais e em um container, com temperatura controlada para experimentos biológicos. “Nas últimas operações (2016/2017/2018), apenas por ocasião da reconstrução e por medida de segurança, as atividades de pesquisa na área da estação foram suspensas ou realocadas para os navios oceanográficos polares e acampamentos, ou ainda para bases estrangeiras”, declarou o MCTIC.

A nota do MCTIC esclareceu também que as pesquisas realizadas fazem parte da 36a Operação Antártica (XXXVI OPERANTAR), iniciada em outubro de 2017. “Esta operação conta com aproximadamente 250 pesquisadores envolvidos nas atividades de campo na Antártica, que cobrem diversas áreas do conhecimento. Universidades e institutos de pesquisa brasileiros desenvolvem importantes projetos na Antártica nas áreas de biologia, clima, glaciologia, geologia, medicina, arqueologia, entre outras”.

A MB está auxiliando grande parte dos pesquisadores durante as obras, por meio do Navio de Apoio Oceanográfico Ary Rongel e do Navio Polar Almirante Maximiano, além de duas aeronaves embarcadas. Segundo o CMG Geraldo, cerca de 160 pesquisadores são apoiados pelos navios, distribuídos em 22 projetos e 13 acampamentos. “As pesquisas são realizadas a bordo dos navios, utilizando-se os equipamentos orgânicos e laboratórios”, explicou.

De acordo com o MCTIC, as pesquisas do Programa Antártico Brasileiro têm impacto direto nas ciências básicas e aplicadas para o Brasil. “A nova estação foi concebida para abrigar um número maior de laboratórios com equipamentos mais modernos e especificidade de uso por área e proverá à comunidade científica a oportunidade de desenvolver atividades em um vasto campo científico”, reforçou a nota do MCTIC.

FONTE: Diálogo
FOTOS: MB



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