Saab oferece para a Marinha um sistema completo para a Guerra de Minas

Por Luiz Padilha

A Saab do Brasil tem estado atenta às necessidades das Forças Armadas do Brasil, em especial à Marinha do Brasil (MB), face a obsolescência dos atuais Navios-Varredores da classe Aratu, navios construídos com casco de madeira, na década de 70. Dos seis navios, apenas três se encontram no serviço ativo realizando fainas de varredura mecânica, acústica, magnética e combinada, e balizamento de canais; porém, não mais com a eficiência que o cenário de guerra de minas atual necessita.

Navio-Varredor “Aratu” da ForMinVar

A MB, para poder fazer frente a este novo cenário, precisa de novos meios de modo a manter a Força de Minagem e Varredura (ForMinVar) atualizada e capaz de enfrentar os desafios inerentes a guerra de minas moderna.

Atendendo ao RFI lançado pela MB, a Saab apresentou sua proposta para dois MCMV (Mine Countermeasure Vessel/Navio de Contramedidas de Minagem), da classe Koster, equipados com sistemas de última geração, inclusive integração de veículos modernos não tripulados.

Antes, porém, cabe uma observação importante. A Marinha sueca possuía sete MCMVs classe Landsort no passado e, quando realizou a modernização para a classe Koster, optou por implementa-la em apenas cinco navios, deixando dois em stand by. Por serem navios construídos com casco em compósito, tecnologia que a Saab Kockums detém há anos, os cascos desses dois navios se encontram em excelente estado, pois não há desgaste por corrosão em sua estrutura.

NCMM HMS Landsort e HMS Arholma na reserva em Karlskrona-Suécia.

Mas como é a proposta da Saab para o MCMV equipado com um sistema de última geração?

A proposta da Saab é de um MCMV praticamente novo, equipado com sistema de última geração. Os dois MCMVs classe Landsort serão modernizados para um padrão acima dos atuais MCMVs classe Koster da Marinha sueca. Atualmente, a Marinha sueca possui um programa para um “upgrade” em seus navios da mesma categoria.

A proposta para a MB prevê que os dois MCMVs receberão equipamentos novos, enquanto nos navios suecos diversos equipamentos antigos permanecerão a bordo, mesmo após o upgrade. Além disso, os navios brasileiros terão a capacidade de operar por, pelo menos, 25 anos.

Caça Minas HMS Vinga da classe Koster

Seguem abaixo alguns itens que irão caracterizar essa nova classe na MB:

Caso a proposta da Saab avance, podemos classificar os dois navios como uma nova classe, pois eles terão equipamentos exclusivos na versão para a MB. Por exemplo, os MCPs poderão ser, por exemplo, de fabricação nacional. Mas a proposta não se restringe apenas aos navios, ela abrange também o treinamento da tripulação o que poderá contribuir para a definição, por parte da MB, de como irá para operar em um cenário de Guerra de Minas atual.

Este treinamento poderá ser feito através dos simuladores no Centro de Guerra Naval, na Base Naval de Karlskrona, e nos MCMVs da Marinha sueca, proporcionando um aprendizado ímpar para seus operadores, em programa a ser acordado.

Um Navio Caça Minas Multifunção para a Marinha

Os dois navios além de cumprirem sua função básica como navios caça minas, também cumprirão a função de varredura através de um veículo USV incluso na proposta da empresa sueca. Mas não termina aí as capacidades multifunção desta nova classe de navio para a MB. Os navios poderão contribuir na realização de tarefas como guerra antissubmarina, patrulha e proteção das instalações offshore, (Search & Rescue – SAR), pesquisas hidrográficas dentre outras; ou seja, em tempos de paz, esses navios irão somar capacidades e ajudar a MB em diferentes áreas.

COC de um MCMV classe Koster

Minas: Uma ameaça constante para a navegação

A guerra de minas é atualmente uma preocupação para as grandes marinhas que estão investindo pesado para evitar, principalmente que navios mercantes sejam danificados, quiçá afundados, trazendo grandes prejuízos aos países que economicamente dependem do transporte marítimo para sua subsistência.

Por serem baratas, as minas são o caminho para infringir danos e tentar imobilizar meios navais durante um conflito. Atualmente, a preocupação das Marinhas vai além dos militares de nações em conflito, pois terroristas através do mercado negro podem vir a adquirir minas ou artefatos explosivos improvisados e colocá-las em pontos estratégicos em portos ou saídas de Baías, como por exemplo, a Baía de Guanabara, o porto de Santos, acesso a Itaguaí e outros o que certamente iriam criar um caos econômico para o Brasil.

Dependendo do tipo de mina ou de artefato improvisado a ser usada, a mesma pode ser instalada até mesmo por pequenos barcos de pesca, sem despertar atenção, impedindo o tráfego marítimo por bastante tempo até que a mina ou as minas, sejam localizadas e destruídas.

As atuais facilidades para implantar minas ou artefatos improvisados não permitem previamente afirmar que determinado navio esteja navegando em área livre de perigo. Daí a importância que ainda é dada aos “navios mãe” com casco de compósitos que não acionem minas sensíveis para campo magnético e elétrico e também capazes de absorver choques de explosões se for o caso.

ROV Saab Double Eagle MK II

Estes são plenamente capacitados a utilizar os veículos não tripulados de qualquer tipo, integrados ao sistema de contramedidas de minagem, onde estão bancos de dados e ferramentas de análise específicas.

Coreia do Sul e Japão estão iniciando a construção de navios em compósitos que vão operar diversos tipos dos modernos veículos não tripulados, sejam autônomos ou remotamente controlados.

Segurança para a navegação dos novos submarinos  

O Complexo Naval de Itaguaí, contempla não apenas o estaleiro onde os submarinos são construídos, mas também a nova Base de Submarinos da Ilha da Madeira (BSIM). Os submarinos da classe Riachuelo entrarão e sairão da BSIM através da Baía de Sepetiba em um percurso de 25mn, onde, navegando a 7 nós, o submarino leva em média 3 horas até chegar em mar aberto. Tem também que ser considerada a grande movimentação dos mais diversos tipos de embarcações na área de Sepetiba. Isso significa que, ante uma ameaça submarina, a MB necessitará de meios para prover a segurança para a navegação de nossos submarinos e suas tripulações.

Com a chegada prevista para 2035 do submarino de propulsão nuclear Álvaro Alberto, a preocupação deverá ser redobrada, face ao combustível do submarino; portanto não é demais afirmar que a MB precisar se equipar o quanto antes com os meios adequados para prover a segurança de navegação em nossa costa; afinal, navios não se constroem em semanas e tão pouco existem disponíveis em “prateleiras” para aquisição.

Quanto custa um MCMV moderno?

Uma análise feita pela Saab em 2019, baseada em projetos existentes com encomendas de MCMVs para Marinhas da Finlândia, Argélia, Polônia, Indonésia e Bélgica/Holanda, mostra um preço médio unitário entre US$ 126 à 163 milhões, mesmo com variações da quantidade de navios encomendados. Atualmente, foi reportado que um novo caça minas da Coreia do Sul vai custar por volta de US$ 240 milhões. Os navios ofertados não deverão atingir tais valores, pois não serão feitas despesas com a construção dos cascos nem com acessórios e auxiliares que permanecerão a bordo.

Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro – AMRJ

Caso a Marinha opte por encomendar a revitalização a ser feita no Arsenal da Marinha, outros cálculos, além das vantagens operacionais, entrarão na equação. Postos de trabalho serão criados, haverá transferência de conhecimento e a economia local vai ser beneficiada.

Temos que levar em conta que as negociações poderiam levar em consideração detalhes cruciais para se determinar o preço do navio, por exemplo:

Conclusão

Com base nas informações disponíveis, esperamos sinceramente que tanto a Saab quanto a MB consigam chegar a um denominador comum, para que o quanto antes a atual Força de Minagem e Varredura (ForMinVar) possa operar com eficiência ante ao cenário atual de guerra de minas.

Sair da versão mobile