Por Brigadeiro Aviador R1 Paulo Ricardo Laux
Entender o que inibe o desenvolvimento sustentável da Amazônia e os potenciais riscos à Segurança Nacional são desafios que requerem conhecimento do que ocorre na região, especialmente as ações ilegais e as respectivas consequências.
Nos últimos anos, observa-se um incremento na exploração ilegal de nossas riquezas, principalmente a mineração ilegal e biopirataria. Todos associados a crimes transfronteiriços graves, incluindo tráfico de drogas, armas e de pessoas.
Neste contexto, vê-se como primordial a busca de informações consistentes e oportunas que tragam conhecimento atualizado sobre os principais problemas. Vários sistemas de sensores espaciais e de aeronaves têm coletado dados da região. Esses sistemas, entretanto, trazem imagens, “congeladas”, atreladas ao momento singular da coleta. Costumam ser bastante utilizados para gerar estatísticas comparativas do que ocorreu de um ano para outro, apontando estimativas controversas das tendências.
A aeronave de sensoriamento remoto R-99 tem contribuído, significativamente, na coleta de dados com seus radares e sensores multiespectrais. Sua autonomia de voo permite a observação de áreas de interesse por algumas horas. Contudo, a transmissão de dados precisa ser feita após o pouso da aeronave.
Nesse contexto, Sistemas de Aeronaves Remotamente Pilotadas (SARP) apresentam um diferencial na capacidade de coletar informações oportunas à tomada de decisão: permitem a permanência prolongada e transmissão de dados em tempo real.
Diversas técnicas e táticas de voo com ARP trazem vantagens na observação de atividades antrópicas. A permanência aliada a flexibilidade de posicionamento (diferentes alturas e ângulos de observação) possibilitam que os ARP coletem dados continuados, a partir de diferentes perspectivas.
Uma missão típica de ARP emprega sensores FMV (Full Motion Vídeo, infravermelho e visível) que permitem a observação da dinâmica em curso. O emprego de diferentes faixas espectrais traz uma capacidade diferencial de observar diversos detalhes da área e da dinâmica das ações.
Em resumo, o emprego de ARP traz uma nova capacidade associada à dimensão temporal da coleta de dados, sob dois aspectos suplementares: possibilidade de observação continuada em extensas regiões e capacidade de transmissão de dados em tempo real.
Tais condições, por conseguinte, oportunizam um incremento na consciência situacional, contribuindo para o planejamento das operações nos níveis tático e estratégico e o acompanhamento da execução, em tempo real, que atualiza as informações e as disponibiliza a quem delas necessitar. Essa capacidade pode, inclusive, evitar que forças fiquem expostas a riscos iminentes.
Ações interagências/conjuntas
Na região amazônica, o emprego de ARPs táticos, de pequeno e médio porte, limitados a operação em linha de visada e com poucas horas de autonomia, traz dois desafios:
– Operacional – devido às grandes dimensões das áreas e rotas de interesse; e
– Logístico – de suprimento e manutenção, e as conhecidas dificuldades de transporte, tanto pela falta de estradas ou ferrovias, quanto pelos custos do modal aéreo.
Por sua vez, os ARPs (RQ-900) da FAB possuem capacidade de monitorar qualquer ponto da região amazônica, a partir de bases estrategicamente posicionadas. Os dados dos sensores dos RQ-900 podem ser compartilhados às Forças de superfície e às agências que atuam na região, em tempo real, por meio de enlaces seguros de dados (como o Link Br-2).
Assim, este suporte de inteligência permite uma otimização dos meios voltados à segurança pública e à preservação ambiental, permitindo que sejam aplicados de forma conjunta e efetiva no alcance dos objetivos nacionais de desenvolvimento sustentável e de segurança. Isso já ocorre esporadicamente. Contudo, pode ser intensificado em proveito do Brasil.
O próximo passo é formar um grupo de estudo que daqui a 10 anos chegará à conclusão de que devemos implantar um esquadrão de aeronaves do tipo na região. Daqui há 18 anos chegam as duas primeiras aeronaves de 3 encomendadas.