SH-16 Seahawk: O Guerreiro da Marinha do Brasil

SH-16 Seahawk_01

Por Guilherme Wiltgen

O Sikorsky SH-3 Sea King foi o primeiro helicóptero naval genuinamente concebido e projetado para operar embarcado, capaz de realizar uma missão completa de guerra antissubmarino (ASW), dispondo de sonar de imersão e armamentos como torpedos e/ou cargas de profundidade.



Assim como a Marinha dos Estados Unidos (US Navy), a Marinha do Brasil (MB), no início da década de 1970, também selecionou o SH-3D Sea King para ser a nova aeronave do 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino (HS-1), mais conhecido na Aviação Naval como Esquadrão “Guerreiro”, substituindo os antigos SH-34J “Baleia”, também de fabricação da mesma empresa norte-americana.

Passados mais de quarenta anos desde sua entrada em serviço, e com a expressiva marca de mais de cinquenta mil horas de voo, os Sea King já estavam dando sinais evidentes da redução de sua vida útil, resultado direto da falta de recursos destinados à MB, para que se pudesse realizar um processo de modernização, evitando a sua baixa disponibilidade e refletindo, principalmente, na segurança de execução de algumas de suas funções, entre elas o voo ASW noturno, imprescindível para a proteção da Esquadra no mar.

Assim, para a substituição dos heróicos SH-3, a MB incorporou, no dia 23 de agosto de 2012, o Sikorsky S-70B Seahawk, seu sucessor natural. Na Marinha, esses helicópteros foram designados SH-16 (16ª aeronave da Aviação Naval) e receberam os indicativos visuais N-3032 a N-3037.

O desenvolvimento

Em 1970, a US Navy iniciou o programa LAMPS (Light Airborne Multi Porpose Systems), para escolher uma aeronave menor que o SH-3, que operasse a partir de suas fragatas e destróieres, cujo convoos não eram dimensionados para operar com o Sea King.

Como solução provisória, foi escolhido o Kaman SH-2D Seasprite, para ser o LAMPS I, mas a aeronave não possuía todos os requisitos desejados. O LAMPS II acabou tendo o seu requerimento cancelado, apesar da oferta da britânica Westland, com a versão naval do Lynx, como uma alternativa totalmente capaz para atender as necessidades norte americanas.

O LAMPS III, ao invés de iniciar pela escolha do material aeronáutico, partiu do contrato com a IBM, demonstrando a preocupação em desenvolver uma plataforma a partir de seus sistemas e aviônicos. Enquanto isso, a US Navy se preocupava em analisar qual helicóptero poderia se tornar a plataforma ideal para operar o novo sistema.

Paralelamente, o Exército (US Army) avaliava, para o seu UTTAS (Utility Tactical Transport Aircraft System), o Boeing Vertol YUH-61A e o Sikorsky YUH-60A. Com a escolha do Black Hawk, no final de 1976, a Marinha seguiu o mesmo caminho e definiu a aeronave para ser o LAMPS III.

SH-60B Seahawk na NAS Patuxent River em 1981

No início de 1977, a versão naval foi designada SH-60B Seahawk, apresentando algumas diferenças básicas em relação à outra, como alteração do trem de pouso, deslocado sob a fuselagem mais à frente e montado em uma perna vertical com duas rodas; sistema RAST (Recovery Assist, Secure and Traverse), que auxilia o pouso e a hangaragem segura da aeronave no navio, mesmo sob condições adversas de mar, e dobragem das pás do rotor principal, da cauda e dos estabilizadores. Além dessas modificações, recebeu um radar APS-124, instalado em um radomo achatado sob a cabine, MAD (Magnetic Anomaly Detector), um lançador pneumático com 25 tubos para sonobóias e quatro antenas de ESM (Electronic Support Measures), localizadas de cada lado do nariz e da fuselagem.

O SH-16 Seahawk

Existem hoje aproximadamente 450 submarinos em serviço em todo o mundo e o número desses modernos e furtivos navios cresce em uma proporção significativa, inclusive entre nações não necessariamente amigáveis.

Armados com mísseis de longo alcance, torpedos pesados e minas, representam uma séria ameaça para as forças navais e às rotas mercantes, sejam em águas litorâneas ou em pontos críticos de estrangulamento das linhas de comunicação.

Potenciais adversários sabem que a economia mundial é suscetível a grandes perturbações nas rotas de comércio e as perdas de cargas valiosas, como os grandes navios petroleiros, podem significar prejuízos irrecuperáveis.

Manter-se no topo da ameaça submarina portanto, continua a ser vital e, nesse aspecto, o helicóptero naval ainda é uma peça chave no moderno teatro de operações.

Ciente dessa situação e com o País avançando cada vez mais em direção a sua auto-suficiência em combustíveis fósseis, com as descobertas de campos de extração na camada do présal, localizada em uma área oceânica denominada pela MB de “Amazônia Azul”, em 28 de maio de 2008 foi assinada a LOA (Letter of Acceptance), documento pelo qual, via FMS (Foreing Military Sales), a Marinha firmou acordo de compra de novos equipamentos militares com a Sikorsky Aircrafts Corporated, mais especificadamente, quatro aeronaves S-70B, variante de exportação do Seahawk, com capacidade de atuar na guerra antissubmarino.

Durante o Paris Air Show 2011, foi anunciada a compra de mais dois exemplares, totalizando seis. Hoje, todos já foram entregues.

O MH-16 conta com avanços tecnológicos e poder de combate até então inéditos na Aviação Naval brasileira, tornando-se o helicóptero naval mais bem equipado da América do Sul, podendo ser operado a partir da Base Aérea Naval de São Pedro da Aldeia (BAeNSPA), no litoral norte do Rio de Janeiro, ou de qualquer outra base em terra, ou embarcado no navio-aeródromo São Paulo (A-12), ou nos navios de Desembarque de Doca (NDD), Desembarque de Carros de Combate (NDCC), na mais nova aquisição da MB, o Navio Doca Multipropósito (NDM) Bahia (G 40) e, futuramente, nos novos Escoltas.

Projeto Logístico 

Preocupado com a continuidade da vida útil operativa da nova aeronave, não se limitando apenas à sua aquisição, foi elaborado um projeto logístico que se iniciou em dezembro de 2009, por ocasião da realização de um Site Survey, por uma equipe composta pela US Navy e pela Sikorsky, na BAeNSPA.

Reforma dos hangares do Esquadrão HS-1.

Foram avaliados o Departamento Industrial da Base, o Depósito Naval, o Centro de Instrução e Adestramento Aeronaval (CIAAN) e o 1º Esquadrão de Helicópteros Anti-Submarino (HS-1), gerando um relatório contendo informações e recomendações necessárias para a infraestrutura de apoio e as medidas necessárias para o período de qualificação da unidade.

O Site Survey apresentou também uma relação completa de ferramentas, equipamentos de apoio e a dotação inicial de sobressalentes. Isso tudo está em constante avaliação pelo Grupo de Fiscalização e Recebimento do Helicóptero Multi-Emprego (GFRHME), da Diretoria Geral de Material da Marinha (DGMM), que iniciou seus trabalhos na Diretoria de Aeronáutica da Marinha (DAerM), mudando-se em abril de 2010 para a cidade de Elmira, NY, junto à fábrica da Sikorsky.

Dessa maneira, a Força Aeronaval proverá a manutenção dessas aeronaves durante toda sua vida útil, que tem potencial de operação de mais de 30 anos.



Um completo sistema de armas

Devido aos avanços tecnológicos e poder combatente, não seria correto afirmar que se trata de um vetor de armas, pois ele se caracteriza por ser um completo e integrado sistema de armas especialmente projetado para o emprego naval, seja realizando missões antissubmarino ou contra alvos de superfície.

Seu projeto lhe confere robustez, resistência e confiabilidade para operação embarcada, em condições adversas de mar e clima, e possui capacidade de realizar HIFR (Helicopetr In Flight Refueling) permanecendo “on station” por mais tempo.

Para o cumprimento de sua missão principal, ou seja, ASW, o SH-16 está equipado com um sonar de imersão no “estado-da-arte”, O DS-100 HELRAS (Helicopter Long-Range Active Sonar). Fabricado pela L-3Com, este sensor subaquático incorpora recente tecnologia de transmissão e recepção de sinais mecânicos, possuindo um moderno transdutor, cujo projeto emprega uma armação mecânica, do tipo guarda-chuva, que se abre quando submerso, possuindo 2,6 metros de diâmetro, aumentando a abrangência da aérea de recepção de sinais. Ao todo, são 96 hidrofones distribuídos pelos seus oito braços. Possui, ainda, sete transmissores dispostos ao longo de um cabo de 5,2 metros de comprimento, posicionado logo abaixo da estrutura receptora.

O HELRAS atua tanto em águas rasas como profundas, podendo ser utilizado abaixo dos 500 metros. Pode operar em frequências de transmissão de 1,31Khz (f low), 1,38Khz (f center) a 1,45 Khz (f high). Essa característica, de operar em baixas frequências, reduz a reverberação dos sinais recebidos e proporciona um alcance teórico superior a 15 milhas náuticas (MN). Um de seus principais recursos está no uso do processamento de sinais de alta resolução doppler, que permite a detecção de alvos com velocidades inferiores a 1 nó.

Junto ao sonar, outro sensor fundamental do MH-16 é o radar APS143 (C)V3, localizado em um radome abaixo da cabine principal. Extremamente confiável, este radar possui uma média mais elevada de tempo entre falhas (MTBF), de aproximadamente 800 horas, e alcance máximo ultrapassando as 200 MN. Introduz na MB o ISAR (Inverse Synthetic Aperture Radar), que é a capacidade de gerar uma imagem bidimensional do alvo, auxiliando na identificação positiva do mesmo, sem a necessidade de expor a aeronave ou outro meio de superfície.

Dentre vários modos de operação, o radar possui a transmissão SART Beacon, para missões SAR. Quando assim tilizado, somente transmite em uma frequência pré estabelecida. Com isso, o SART instalado na embarcação emite um Return Eyebrows, que é o sinal de resposta ao radar que o interroga. O SART tem um período de duração estimado de aproximadamente 100 horas, em stand-by, e de oito horas transmitindo, podendo ser detectado por uma aeronave voando a 8.000 pés e a 30MN de distância.

Outra inovação é o AIS (Automatic Identification System), que permite receber os dados transmitidos pelos navios mercantes, possibilitando a compilação do quadro tático, reduzindo a carga de trabalho dos tripulantes e facilitando a identificação e correlação dos alvos.

A aeronave conta com Fully Integrated Glass Cockpit com dois MFD (Multi-Function Displays), disponíveis tanto para o piloto (1P) quanto para o copiloto (2P), onde são exibidos todos os parâmetros de voo, como horizonte artificial, indicativos de potência dos motores, sistemas de armas e display tático, com visualização alternada nas telas.

O painel é compatível com uso de OVN/NVG (Óculos de Visão Noturna/Night Vision Googles), sensor passivo de identificação que auxilia, principalmente, o voo ASW noturno, quando a aeronave permanece hoverando por longos períodos, a poucos pés acima da superfície do mar, aumentando a segurança neste tipo de missão.

Atuando também como sensor passivo o EOSS (Eletro-Optical Sensor System) AN/AAS-44 da Raytheon, é um imageador térmico (FLIR) que combina Day TV e telemetria a laser (Laser Range Finder ou Laser Target Designator) para identificação visual de alvos.

Posicionado no nariz da aeronave, tem a sua imagem gerada nos MFDs disponíveis, sendo operado pelo co-piloto através de um joystick no console central.

A aeronave tem sistema de gravação de dados táticos para efetuar a análise posterior de toda missão, GPS integrado para garantir precisão de navegação e auxiliar nas aproximações automáticas para operação com sonar, Voice/Data Recorder, datalink e sistemas de comunicação Rhode&Scharz, equipado com o sistema SECOS.

Como armamento antissubmarino, o SH-16 utilizará o torpedo Mk.46 Mod 5, transportado em cabides laterais, sendo capaz de levar até dois torpedos.

Para combate a alvos de superfície, a MB selecionou o MAS Kongsberg AGM 119B Penguin Mk.2 Mod7, com guiagem IR (infravermelho) do tipo “Fire And Forget” (dispare e esqueça), com alcance de 18MN. Contra ameaças assimétricas, pode ser armado com uma metralhadora lateral de 7,62mm, montada em um pedestal.

Dentro do conjunto de contramedidas, a aeronave possui quatro antenas do sistema LR-100 MAGE/ESM (Medidas de Apoio a Guerra Eletrônica/Electronic Support Measures), com dois sensores instalados no nariz e dois em cada lado da fuselagem, proporcionando uma cobertura de 360°, e tendo as funções de RWR (Radar Warning Receiver) e ELINT (Electronic Intelligence), tudo integrado em um único sistema.

Também inova com a capacidade de lançar dispositivos de chaff/flare, por meio de dois sistemas ALE-47 CMDS (Countermesures Dispensing System), à ré de cada bordo, com capacidade para 60 cartuchos e variadas combinações de uso.

O chaff se constitui em um importante recurso para a guerra eletrônica, aumentando a chance de sobrevivência da aeronave contra armamentos antiaéreos e mísseis guiados por radar, enquanto que o flare é utilizado para desviar mísseis guiados por IR, lançando cartuchos de pirotécnicos incandescentes, à base de magnésio, que se tornam alvos bem mais atraentes que o calor gerado pela exaustão dos motores do helicóptero.

O novo Guerreiro já está totalmente operacional e elevou consideravelmente a capacidade de guerra ASW e ASuW da Marinha do Brasil, equiparando-a aos padrões das principais Forças Navais do mundo.

 

“AD ASTRA PER ASPERA”

(É ÁRDUO O CAMINHO PARA OS ASTROS)



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