Impactos do conflito russo-ucraniano na Indústria de Defesa brasileira

Munição de 35mm do Gepard 1A2

Por Luciano Veneu

O conflito russo-ucraniano tem consequências observadas em todo o globo. Os Estados Unidos (EUA) e seus aliados pressionam os demais atores internacionais a apoiarem a Ucrânia. Para o Brasil, além de outras áreas, o conflito está impactando a Base Industrial de Defesa (BID) que, segundo o Ministro da Defesa, José Múcio, representa 5% do PIB brasileiro.

Em março de 2023, após a negativa do Presidente Lula em enviar munição à Ucrânia, a Alemanha vetou a venda de blindados Guarani às Filipinas. Sendo assim, quais os possíveis desdobramentos para a BID brasileira nesse cenário internacional?

O Brasil se destaca no mercado internacional de Defesa, com produtos de qualidade comprovada em campo de batalha, como o Sistema de Foguetes de Artilharia para Saturação de Área (ASTROS) e a aeronave turboélice Embraer EMB-314 Super Tucano. O blindado Guarani, que já foi exportado para a Argentina e para o Líbano, está com sua compra encomendada por Gana e Filipinas em contratos milionários. Entretanto, há componentes no veículo que necessitam da permissão de outros países para que seja efetuada a sua venda, como é o caso da Alemanha.

Com esse poder de veto, o país europeu impediu a venda aos filipinos como retaliação à recusa brasileira em exportar munição às Forças Armadas ucranianas. A partir disso, o Brasil afirma que irá produzir componentes equivalentes aos alemães em território nacional, desenvolvendo sua capacidade de produção de blindados.

Lançamento do foguete AV SS-60 pelo Sistema Astros II MK-6

Ademais, essa decisão pode promover ao país maior segurança nas vendas internacionais, pois não dependeria do aval de atores que não estejam diretamente ligados à negociação. O governo brasileiro compreende a importância da BID, especialmente em termos de geração de empregos, desenvolvimento nacional e tecnológico.

Nota-se, portanto, que a neutralidade brasileira no conflito ucraniano acaba impactando esse setor no curto prazo, já que as vendas estão sendo embargadas. Entretanto, no médio e longo prazos, a situação pode estimular o desenvolvimento de tecnologias autóctones e a qualificação profissional de nacionais para ocuparem
vagas de emprego de alta capacitação em território brasileiro.

Dessa forma, o conflito influencia indiretamente no desenvolvimento de tecnologias nacionais para o mercado de Defesa e possibilita, no futuro, maior independência da BID brasileira em relação a potências estrangeiras. A proibição alemã destaca uma fragilidade da indústria nacional, mas pode motivar a expansão do segmento de Defesa na economia brasileira.

FONTE: Boletim GeoCorrente

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