SUBMARINOS
1 – Introdução
Desde 1914, com a criação da Flotilha de Submersíveis e a incorporação dos submarinos classe “Foca”, construídos na Itália, a Marinha do Brasil (MB) opera este singular navio de maneira ininterrupta.
Em 1986, no Arsenal de Marinha do Rio de Janeiro (AMRJ), foi batida a quilha do submarino Tamoio, o primeiro construído no Brasil, pertencente à classe Tupi (IKL-209 construído na Alemanha), iniciando um esforço que redundou na construção dos submarinos Timbira, Tapajó e Tikuna.
Atualmente, como consequência de um acordo firmado entre os governos do Brasil e da França, surgiu o Programa de Desenvolvimento de Submarinos – PROSUB, que prevê a construção de 4 submarinos diesel-elétricos e de 1 submarino com propulsão nuclear, no Brasil, além do Estaleiro responsável pelas construções em si e de uma Base Naval onde os meios serão sediados.
Mas qual é a importância da posse de submarinos para o Brasil?
O que leva a MB a despender tal esforço, de operação contínua desde o início do século passado e, recentemente, de construção de submarinos no Brasil?
São estes os temas que o presente artigo pretende abordar, devendo ser ressaltado que o mesmo materializa uma visão do autor e não a posição oficial da MB.
2 – Um pouco de estratégia naval
Os leitores habituais desta coluna já estão inteirados de certos conceitos, utilizados costumeiramente nos demais artigos que a compõem.
Um destes conceitos fundamentais é o de Controle de Área Marítima, definido da seguinte maneira pela MB:
“Controle de Área Marítima: consiste em garantir certo grau de liberdade de utilização, ainda que temporário, sobre certas áreas marítimas, fixas ou móveis, incluindo, como necessário, o controle do espaço aéreo sobrejacente, da superfície e da massa líquida subjacente, exercido na intensidade adequada à realização de tarefas específicas.”
Já vimos como é vital entendermos que este controle é buscado para a “realização de tarefas específicas”, que a importância da obtenção do mesmo reside em seu exercício e exploração, do modo mais amplo e irrestrito, para propósitos políticos, econômicos e militares. Em outras palavras, é um meio para o atingimento de uma finalidade ulterior.
A marinha que consegue obter tal controle tem a liberdade de utilizar o mar como desejar, seja para manter as Linhas de Comunicação Marítimas de seu país, de permitir a exploração e a explotação de recursos em suas águas jurisdicionais, de utilizá-lo como meio de transporte de forças militares, de resguardar a população do ataque do moderno armamento naval, etc.
Mas o passo anterior a obtenção de tão importante objetivo da estratégia naval é a DISPUTA de tal controle com a marinha adversária, existindo três graus de disputa se nos focarmos em uma comparação de poderes combatentes:
1 – Forças iguais ou equilibradas;
2 – Forças quase iguais ou quase equilibradas; e
3 – Forças desiguais ou completamente desequilibradas.
No primeiro caso, as esquadras de ambos antagonistas, por sua equivalência combativa, estão em condições de travar combate e se encontram prontas para o choque decisivo. Esmeram-se em executar tarefas de defesa e ataque às comunicações marítimas, às posições estratégicas e ao território do inimigo. Quando uma delas interfere na missão da outra, ocorre o combate que definirá qual obterá o controle.
No segundo caso, o mais fraco aspira, com possibilidades de êxito, equilibrar as forças, para logo pretender a conquista do controle. Não pode satisfazer suas metas com uma defensiva passiva, pois assim somente conserva um desvantajoso “status quo”. Portanto, para alterar a situação, necessita agir com imaginação e iniciativa. Tenta criar as condições favoráveis para degradar a esquadra adversária e equilibrar as forças.
No terceiro caso, o desbalanceamento das capacidades de combate entre as esquadras beligerantes é absolutamente manifesto. Nenhum esforço, político ou estratégico, pode modificar, de maneira significativa, a desfavorável situação no teatro marítimo. Em consequência, a esquadra em desvantagem somente pode produzir no inimigo os maiores danos possíveis utilizando certos meios específicos. Os danos devem ter valor político, estratégico e econômico para influírem no resultado do conflito. Ao invés de Controlar Área Marítima, a esquadra em flagrante desvantagem tenta Negar o Uso do Mar ao Inimigo, outro dos conceitos já conhecidos pelos leitores desta coluna e definido pela MB como:
“Negação do Uso do Mar ao Inimigo: consiste em dificultar o estabelecimento ou a exploração do controle de alguma área marítima por parte do inimigo. É normalmente realizada por quem não tem condições de estabelecer o Controle de Área Marítima (portanto, um Poder Naval mais fraco ante o oponente) ou quando não há interesse em mantê-lo.”
E o meio a ser utilizado, capaz de cumprir tal tarefa, é o submarino.
3 – O caso brasileiro
Para entendermos a importância do submarino para o Brasil vamos, mais uma vez, consultar a Estratégia Nacional de Defesa (END).
Em sua página 20, no item “A Marinha do Brasil: a hierarquia dos objetivos estratégicos”, podemos ler:
“Na maneira de conceber a relação entre as tarefas estratégicas de negação do uso do mar, de controle de áreas marítimas e de projeção de poder, a Marinha do Brasil se pautará por um desenvolvimento desigual e conjunto. Se aceitasse dar peso igual a todos os três objetivos, seria grande o risco de ser medíocre em todos eles. Embora todos mereçam ser cultivados, o serão em determinadas ordem e sequência.
A prioridade é assegurar os meios para negar o uso do mar a qualquer concentração de forças inimigas que se aproxime do Brasil por via marítima. A negação do uso do mar ao inimigo é a que organiza, antes de atendidos quaisquer outros objetivos estratégicos, a estratégia de defesa marítima do Brasil. Essa prioridade tem implicações para a reconfiguração das forças navais.”
Aqui vemos que o poder político da nação entendeu a necessidade da MB cumprir as Tarefas Básicas do Poder Naval, cita claramente três delas e dá prioridade a obtenção de meios que permitam a Negação do Uso do Mar ao Inimigo antes da aquisição de meios que permitirão o Controle de Área Marítima. Esta determinação se materializa com o PROSUB e claramente foi feita por motivos financeiros, pois logo a seguir podemos ler:
“Ao garantir seu poder para negar o uso do mar ao inimigo, precisa o Brasil manter a capacidade focada de projeção de poder e criar condições para controlar, no grau necessário à defesa e dentro dos limites do direito internacional, as áreas marítimas e águas interiores de importância político-estratégica, econômica e militar, e também as suas linhas de comunicação marítimas.”
Na página 21 da END vemos:
“Para assegurar o objetivo de negação do uso do mar, o Brasil contará com força naval submarina de envergadura, composta de submarinos convencionais e de submarinos de propulsão nuclear. O Brasil manterá e desenvolverá sua capacidade de projetar e de fabricar tanto submarinos de propulsão convencional como de propulsão nuclear.
Acelerará os investimentos e as parcerias necessários para executar o projeto do submarino de propulsão nuclear. Armará os submarinos, convencionais e nucleares, com mísseis e desenvolverá capacitações para projetá-los e fabricá-los.”
Neste trecho lemos a decisão governamental de dotar a MB com submarinos convencionais, de propulsão diesel-elétrica, e com submarinos com propulsão nuclear, além da determinação de se realizar o projeto e a fabricação de tais meios no Brasil, com as parcerias que se fizerem necessárias.
E na página 22 da END lemos:
“A constituição de uma força e de uma estratégia navais que integrem os componentes submarino, de superfície e aéreo, permitirá realçar a flexibilidade com que se resguarda o objetivo prioritário da estratégia de segurança marítima: a dissuasão com a negação do uso do mar ao inimigo que se aproxime, por meio do mar, do Brasil. Em amplo espectro de circunstâncias de combate, sobretudo quando a força inimiga for muito mais poderosa, a força de superfície será concebida e operada como reserva tática ou estratégica. Preferencialmente, e sempre que a situação tática permitir, a força de superfície será engajada no conflito depois do emprego inicial da força submarina, que atuará de maneira coordenada com os veículos espaciais (para efeito de monitoramento) e com meios aéreos (para efeito de fogo focado).”
Aqui devemos nos reportar ao item dois deste artigo, quando tratamos da disputa pelo controle do mar com duas forças desiguais ou completamente desequilibradas.
Mas e quanto ao meio em si, o submarino?
Como podemos entendê-lo?
4- O Submarino
a) O submarino diesel-elétrico
Também conhecidos como submarinos convencionais, são navios de guerra que operam submersos, movidos por uma planta de propulsão diesel-elétrica. Sua principal característica é a capacidade de ocultação, que lhes permitem explorar o princípio da surpresa. A ocultação implica incerteza quanto à presença, impondo ao adversário um considerável esforço de contramedidas.
Os submarinos com propulsão convencional são dependentes de eventuais exposições à superfície do mar, a fim de permitir que os motores diesel venham manter a carga das baterias necessárias à operação quando submersos.
No mar, executam tarefas de caráter defensivo ou ofensivo. Extremamente versáteis, podem localizar, neutralizar ou destruir navios mercantes, de guerra e ainda outros submarinos. Além disso, podem lançar forças especiais em área hostil, minas marítimas e contribuir para a efetiva fiscalização de nossas águas jurisdicionais. São os meios mais indicados para operar em águas rasas, por seu tamanho reduzido e baixa emissão de ruídos.
Pelas limitações impostas por sua propulsão, operam em Zonas de Patrulha (ZP), localizadas em pontos focais para onde convergem o tráfego mercante inimigo, onde é esperada a passagem das forças navais inimigas ou nas proximidades dos portos e terminais adversários.
A figura abaixo, obtida na Proccedings Magazine do U.S. Naval Institute, nos mostra o Almirante James Stavridis, antigo United States Southern Commander em sua sala, e notamos no mapa ao fundo as principais rotas de trânsito de navios mercantes no Atlântico Sul e os pontos focais para onde os mesmos convergem.
A operação dos submarinos convencionais em ZP caracteriza a Estratégia do Posicionamento, que é a melhor forma de utilizá-los.
Se utilizados contra o tráfego mercante inimigo, caracterizamos o que os alemães, na Segunda Guerra Mundial, chamavam de Tonnagekrieg, isto é, guerra da tonelagem, ou Estratégia da Tonelagem, pela qual objetivavam tirar dos Aliados a capacidade de poderem transportar pelos oceanos matérias primas, o que incluía o petróleo necessário ao esforço de guerra, bem como material de guerra, munições e efetivos militares.
Se utilizados contra navios de guerra inimigos, poderíamos caracterizar este emprego como uma Estratégia de Contraforça, cujo objetivo seria reduzir a capacidade de combate inimiga a um patamar que permitisse o emprego dos meios de superfície na disputa pelo controle do mar.
São armados com torpedos, mísseis superfície x superfície e minas marítimas.
b) O submarino nuclear
Submarinos nucleares são navios de guerra que operam submersos, movidos por uma planta de propulsão nuclear. Suas principais características são a capacidade de ocultação e a mobilidade estratégica, que lhes permitem explorar o princípio da surpresa e reposicionarem-se para perseguir e atacar eventuais inimigos sem as limitações inerentes aos submarinos convencionais, como a dependência da atmosfera e a impossibilidade do emprego de velocidades elevadas por grande período de tempo, o que caracteriza a Estratégia do Movimento.
A ocultação implica incerteza quanto à presença e a mobilidade estratégica implica que uma força naval inimiga estará permanentemente sob a ameaça destes meios, impondo ao adversário um imenso e permanente esforço de contramedidas.
A propulsão nuclear propicia a este meio a independência das eventuais exposições à superfície do mar para realizar carga de baterias, tornando-o por este motivo o “verdadeiro submarino”.
O emprego do submarino nuclear não se dará em ZP, mas em mar aberto, perseguindo uma força naval inimiga, explorando ao máximo suas características de ocultação e mobilidade estratégica, sendo utilizado, desta forma, de maneira bem distinta dos submarinos convencionais, materializando, desta maneira, a Estratégia de Contraforça citada.
Os submarinos nucleares brasileiros serão armados com os mesmos torpedos, mísseis superfície x superfície e minas que dotarão os submarinos convencionais. Caso haja a decisão de armá-los com mísseis de cruzeiro capazes de realizar ataques profundos a objetivos em terra, proporcionarão ainda maior capacidade dissuasória ao Brasil.
A figura abaixo nos mostra como seriam as ZP dos submarinos convencionais, mais próximas a costa e com menores dimensões, e a liberdade que a mobilidade estratégica proporciona aos submarinos nucleares, com sua área de responsabilidade mais afastada e consideravelmente maior.
5 – Conclusão
Ao iniciarmos este artigo nos propusemos a estudar o submarino, sua importância para o Brasil, os motivos que levaram a MB a operar, de forma contínua, este meio desde o início do século passado e analisar o imenso esforço atual feito pela mesma para fabricá-lo.
Entendemos, no item dois do artigo, que a Disputa pelo Controle de Área Marítima se dá com esquadras em distinto equilíbrio de poderes combatentes e vimos que para aquela em total desvantagem material a opção é Negar o Uso do Mar ao Inimigo, usando submarinos.
Relembramos, no item três do texto, as principais determinações do poder político da nação à MB, no que se refere à Negação do Uso do Mar ao Inimigo.
E estudamos, no item quatro, as características ímpares dos submarinos convencionais, dos de propulsão nuclear e as estratégias de utilização dos mesmos.
Para encerrar, aproprio-me da frase que motiva os milhares de homens e mulheres de nossa Marinha, especialmente os envolvidos na verdadeira odisseia do PROSUB:
“Submarino nuclear: vamos construí-lo”
Excelente artigo, parabens!
sou estudante de relacoes internacionais, e agora faco um trabalho academico justamente sobre o prosub, gostaria de saber se há material que especifique a capacidade real de patrulhamento ou de cobertura em caso de aplicacao da dissuasao, tanto dos SC quanto dos SNA
Obrigado
Abraco
Prezado Vinicius Castro a clareza e objetividade empregadas em sua abordagem dão ao texto uma qualidade didática inconfundível e, no meu entendimento e creio que de outros tantos interessados, atendem plena e satisfatoriamente o propósito a que se destina. Informar, esclarecer, atualizar e difundir aspectos específico sobre esta Força, além de incentivar a cultura do conhecimento pretérito, atual e futuro acerca da gloriosa MB. Portanto, boa sorte! e continue firme nos seus lídimos propósitos.
Ao meu ver, a política de defesa marítima brasileira deveria se basear, em ordem de prioridade:
– sistema de vigilância (radar) costeira (vide iai.co.il) + UAVs;
– sistema anti-navio terra-mar.
– navios colocadores/caçadores de minas navais;
– barcos patrulha (estilo Super Dvora israelenses) na proporção de 4 para cada submarino;
– frota de pequenos submarinos diesel-elétricos;
– submersíveis de resgate submarino (lembrem-se do Kursk)
Nada de porta-aviões, navios de desembarque, submarinos nucleares. First things first!
SÓ O DIVINO PARA ACELERAR ISSO AI. ..
Vinicius,
Parabéns pelo excelente artigo.
Caro Ruiz
Obrigado pelo incentivo.
Forte abraço
Caro Vinicius,
Parabéns pelo artigo.
Saudações.
Prezado Vinicius, obrigado pela resposta. Foi uma argumentação convincente sobre a questão do AIP. Não sabia que o Chile fez uma opção similar.
André, quem escreve um artigo pode dar o foco que preferir.
Eu poderia dar um foco histórico, econômico, sociológico, etc.
Mas optei que aqui na Coluna Mar & Guerra o foco fosse sempre político/estratégico.
Você pode encontrar referências históricas facilmente, mas duvido que encontre algo com o conteúdo desta coluna, pelo menos nos sites brasileiros.
Posso sugerir alguns fóruns onde são debatidos tais assuntos com diferentes enfoques.
O Fórum Defesa Brasil é um; o Fórum Defesa Brasileira outro.
Forte abraço
Pois é Vinicius eu ja esperava que vc tocasse no tema da “propulsão”. Eu sei que a intenção é explicar a finalidade do uso da tecnologia nuclear como um sistema de energia e locomoção do submarino, ou navio de superficie. Mas vai do interesse de quem lê o conteúdo buscar entender do que se trata.
Considero o carater histórico importante para entendermos a origem e processo de transformação dos atuais submarinos, Vinicius, principalmente nas duas guerras mundiais. Foram nessas campanhas que os submarinos foram usados pela primeira vez em larga escala (PGM) e de forma mais evoluída (SGM) a ponto de ter surgido o peróxido de hidrogênio, para os submarinos serem independentes de ar. Percebe a importância desse período para o potencial dos submarinos? Mais ainda: eles retiraram o couraçado da posição de navios mais poderosos de uma esquadra, torna-os vulneráveis. Ainda bem que os alemães não ganharam a guerra submarina, hoje o mundo estaria pior ainda. Mas foi a duras penas que os aliados ganharam!
No momento em que escrevemos, nem sempre vem a mente detalhes importantes do que estamos falando. Faltou dizer que o armistico do fim da PGM determinou que a Alemanha não poderia mais utilizar submarinos em sua frota, nos dando uma idéia do poder tático desse tipo de navio. Em relação a opção do controle de area máritima ser considerado superioridade de uma potência em vez de negação do uso do mar, devemos ter cuidado com isso: ser superior ao adversário não é ter navios de superficie! Não devemos substimar o poder de um submarino, principalmente nuclear. Lembre-se, ele atua em uma importante função de guerra: ver sem ser visto. De que adianta ter um porta-avião para controlar área marítima se ele é vulnerável ao submarino? Isso não é ser superior. O melhor caçador de submarinos é o próprio submarino, por mais avançado que seja as escoltas desse aeródromo. O que eu quero dizer é que no controle de área marítima o submarino é indispensável caso o adversário use submarino. Submarinos são espiões e isso pode ser fundamental no dominio de área. Quanto mais informações a nau capitânia tiver no teatro de operações melhor será o desempenho da força tarefa. Hoje os submarinos também podem atacar helicóperos e pontos terrestres.
Quero recordar também o acidente do vôo da Air France em que os franceses mandaram um submarino nuclear para vasculhar o fundo mar em busca da caixa preta: esse episódio demonstra mais uma vez a importância do submarino até mesmo como importante e determiante ferramenta de analise e busca no leito marinho, sem depender de tecnologia estrangeira.
Seus artigos são importantes para conhecermos nossos meios militares e espero contribuir com o debate.
Até a próxima!
Prezado André, primeiramente obrigado por seus comentários.
Peço que veja este artigo como continuidade dos outros que formam esta coluna.
Desta maneira, o conceito estratégico brasileiro de defesa pode ser lido no primeiro artigo, que trata sobre dissuasão. Lá podemos ver que tratei das outras FA também, com o mesmo rigor que trato da MB.
No segundo artigo, podemos ler sobre as Tarefas Básicas do Poder Naval, entendemos o que é uma Marinha Balanceada, vemos que para cada Tarefa existe um meio específico para cumprí-la e compreendemos o papel dos escoltas no Controle de Área Marítima.
No terceiro artigo, apesar de seu evidente viés histórico, vemos outras facetas da visão estratégica brasileira quanto a defesa.
No quarto artigo, volto a tratar do Controle de Área Marítima e da Projeção de Poder Sobre Terra, com o foco voltado para NAe.
E, no atual artigo, trato de Negação do Uso do Mar ao Inimigo.
Com o intuito de não ser repetitivo e tornar-me maçante para os que leem esta coluna, optei por não repetir e repetir os conceitos já estudados.
Com esta explicação, espero ter sanado suas dúvidas iniciais.
Minha intenção com o presente texto não foi dar ao mesmo um caráter histórico, tratar das campanhas submarinas na 1ª e 2ª Guerras Mundiais, mas apresentar a necessidade do submarino para o país e tratar do emprego, da estratégia de utilização do mesmo. Espero ter conseguido meu intento.
Mas veja, aproveitando seu texto para reforçar uma questão, os alemães não ganharam as duas guerras, apresar do uso intensivo do submarino.
Se você perguntar para qualquer oficial de marinha do mundo qual das Tarefas Básicas gostaria que sua Força cumprisse preferencialmente, tenho certeza de que responderá o Controle de Área Marítima, pois isto significa que sua marinha é superior a dos adversários, que não precisará ficar em uma defensiva estratégica optando por Negar o uso do Mar quando poderia usá-lo em seu benefício.
A questão do submarino de propulsão nuclear é importante. A MB faz questão de fixar este ponto pela confusão que aqueles que não estão acostumados com assuntos estratégicos fazem ao ler sobre o tema. A primeira pergunta inevitavelmente é o motivo de armas nucleares, se o Brasil não abriu mão de fabricá-las. Então, este “excesso” não atrapalha, pelo contrário.
Sobre as características do submarino nuclear, eu as citei no texto.
Agradeço, mais uma vez, sua contribuição para o entendimento do tema.
Caro Manuel Nesbeda, obrigado pelo incentivo.
PRP velho, valeu.
Acredito que faltou alguns elementos importantes nesse texto, o que ajudaria a convencer ainda mais o público sobre a importância desse meio naval (principalmente o nuclear) para nosso país. Um deles é o conceito estrátégico do Brasil no mundo antes da estratégia de defesa. É a estratégia quem determinará o emprego de submarinos, se será nuclear, de navios de superficie como o porta-avião etc.
A estratégia em questão é defender os interesses do Brasil onde quer que se encontrem: o povo brasileiro, o patrimônio nacional, os interesses políticos e comerciais no Brasil e no exterior etc. Para isso o governo deve ter forças armadas bem equipadas e adestradas para impor o efeito dissuasório desejado: somos pacificos, não indefesos. Portanto não é só com meios navais que devemos ter a disposição para defender os interesses do Brasil no mar, mas aereo também. E no caso dos submarinos a marinha percebeu que só os submarinos clássicos – como costumo chamar os convencionais – não é o bastante, se considerarmos a imensa costa do Brasil.
Outro aspecto importante a considerarmos é o geopolítico. Um país ascendente no mundo como o Brasil deve ter maiores responsabilidades por se posicionar entre as dez maiores economias do mundo. O próprio envio de duas fragatas para operações de paz no Líbano “são prova inconteste dessa afirmação”. Falando em fragata, o prosuper deveria tem mais conteúdo nas discuções.
E finalmente o aspecto histórico, apesar de que no inicio se falou da origem da flotilha de submarinos nacional e no meio um pouco da SGM, mas não na profundidade necessária: refiro-me ao papel dos submarinos nas duas grandes guerras mundiais. Isso porque, nesses conflitos em larga escala, os submarinos foram decisivos para o eixo dominar o mundo. Os submarinos eram tão terriveis que agiam em bando chamado de alcatéia, ou matilha.
Como a marinha britanica era dez vezes superior a alemã na Segunda Guerra Mundial, a Alemanha não poderia disputar o dominio do mar com as unidades de superficie contra a Inglaterra e França. Aqui entra o conceito de estratégia para o qual deve se empregar certo tipo de unidade bélica, no caso o submarino: usar o submarino para desabastecer a ilha britanica de produtos fundamentais para a existência do país, interferindo no transporte marítimo. A idéia era matar os britanicos de fome.
Acho que a melhor forma de entendermos o submarinos nuclear é entendermos o submarino em si. Eles são limitados, o que interfere numa guerra. Se seu objetivo é operar oculto, ele não pode ter a necessidade de vir a tona. Daí a importancia da tecnologia nuclear: tornar o submarino verdadeiramente oculto. Na tentativa de convencer a sociedade do potencial do submarino atômico a marinha usa muito o substantivo propulsão, ao invés de ser mais direto: submarino nuclear ou submarino atômico. Dizer “submarino de propulsão nuclear” é desnecessário e detalista, acaba discriminando o setor nuclear ao ser específico. Ou seja, ao se falar em navio nuclear esta se referindo ao sistema de propulsão mesmo! É o mesmo que falar subir para cima, descer para baixo, entrar para dentro, sair para fora etc. Mesmo se falassemos dos submarinos estratégicos (lançadores de bombas atômicas) ainda estariamos falando da geração de energia do navio e não do arsenal que ele carrega. Tanto que existiu submarino estratégico com propulsão diesel (SSB – sem o N de nuclear / SSBN submarino nuclear com míssil balistico).
Falar submarino diesel-elétrico, ou eletro-diesel, também não acho apropriado ja que tanto com o uso de energia nuclear como a diesel o objetivo é gerar energia elétrica. Nesse caso os submarinos nucleares também deveriam ser chamados de eletro-nuclear!
Bom essa é minha opinião sobre o tema. Estamos aí para tratarmos do assunto.
Parabéns, excelente!!!
Prezado André, obrigado por seu comentário.
Caro Mauro, obrigado por seu comentário.
Diogo, durante esta semana o site publicará outras reportagens sobre o tema que sanarão todas as dúvidas quanto ao SBr e o SNBr.
Aguarde um pouco pois vai valer a pena.
Mais um artigo excepcionalmente bem escrito, que propicia a todos nós conhecer um pouco mais das estratégias navais.
Continue com o belo trabalho.
Prezados Anderson e Diogo, obrigado pelos comentários elogiosos.
Caro Renato, obrigado pela pergunta.
Veja que as matérias desta coluna normalmente são no nível operacional, estratégico ou político. Com isto evitamos debates sobre hardware, que são importantes mas não nosso foco.
Vou tentar lhe responder, adiantando que outros podem fazê-lo de maneira melhor do que eu.
Os sistemas AIP existentes devem ser vistos dentro do cenário de utilização dos submarinos. Para um país como a Alemanha, que possui o Báltico como área de operações, um mar fechado, não tão profundo, monitorado em sua superfície por equipamentos eletrônicos localizados em terra, a disponibilidade de sistemas AIP é importantíssima. Ele permite que o submarino, quando em sua ZP, e somente na mesma, permaneça em baixíssima velocidade economizando baterias. Outros cenários poderiam ser citados, como o Mediterrâneo.
Mas para o Brasil, com o Atlântico Sul como área de operações, um oceano profundo, de grandes dimensões, fato que impede seu monitoramento de superfície por meios eletrônicos instalados em terra, que obriga um submarino a desenvolver altas velocidades para chegar a sua ZP, ele não pode ser considerado imprescindível.
Outro fator é que o sistema oferecido ao Brasil, o de célula de combustível, utiliza oxigênio em alto grau de pureza como combustível. Somente uma indústria brasileira poderia fornecer o mesmo, exclusivamente no Rio de Janeiro (o que é outra limitação importante). Ainda mais, este combustível é tão perigoso que é proibido trafegar com o mesmo por áreas urbanas, onde está localizada a atual base de submarinos brasileira.
Ou seja, a resposta para sua pergunta é uma série de dados que fizeram com que a MB, e a marinha chilena, p. ex., que possui um cenário de operação similar, decidissem abdicar desta tecnologia. Também não se esqueça que iremos construir o “verdadeiro submarino”, o que somente reforça esta decisão.
Sem querer desmerecer a matéria confesso que senti falta de se abordar a questão do AIP. Por que a MB optou por não adotá-lo? Quais as vantagens ou desvantagens de seu uso? Afinal jáe ele reduz uma das principais limitações dos submarinos diesel que é a necessidade de subir a superficie, não?