Por Luiz Padilha
Com o intuito de estreitar as relações com a US Navy, a Marinha do Brasil mantém na Base Naval de Norfolk-VA, a mais importante da Marinha americana, oficiais realizando diferentes atividades, se aperfeiçoando para quando retornarem ao Brasil, disseminarem suas experiências e os conhecimentos adquiridos nos setores para onde forem designados.
Prédio da OTAN dentro da Base Naval de Norfolk
Oficial de Ligação de resgate junto ao Comando da Força de Submarinos do Atlântico da U.S. Navy (COMSUBLANT).
O Capitão de Mar e Guerra Amilton Oliveira Ferreira é ex-comandante de submarino e tem exercido diversas funções relacionadas a essa atividade desde que participou do Curso de Aperfeiçoamento de Submarinos para Oficiais (CASO) em 1996.
Oficial de Ligação de resgate junto ao COMSUBLANT ele é o representante da Marinha do Brasil e do Comando da Força de Submarinos (ComForS) junto ao Estado-Maior daquele Comando e desenvolve diversas atividades, entre as quais se destacam:
- Em coordenação com o escritório do ISMERLO (International Submarine Escape and Rescue Liaison Office), auxiliar no desenvolvimento de táticas, técnicas e doutrina internacionais, de resgate de submarinos, em exercícios e operações de resgate de submarinos do ISMERLO;
- Participar de visitas, reuniões e exercícios de interesse mútuo do Brasil, EUA e OTAN relacionados ao resgate de submarinos.
Sua presença é fundamental na ligação entre o ComForS (Comando da Força de Submarinos) e o COMSUBLANT, auxiliando no acompanhamento e execução do Plano Bilateral de Engajamento, no planejamento da Submarine Staff Talks e na visita dos Comandantes da Força.
Ele representa a MB em visita à submarinos da U.S. Navy, sediados em Norfolk, e em diversos eventos no âmbito do COMSUBLANT.
Participou como ouvinte no 34th ANNUAL SYMPOSIUM, promovido pela “NAVAL SUBMARINE LEAGUE”, e visitou a Naval Submarine School, em Groton, Connecticut, observando o treinamento de escape de submarino pressurizado.
“Chama a atenção o grau de profissionalismo de nossas tripulações que se reflete nos bons resultados obtidos pelos nossos submarinos, em especial quando operaram em exercícios que contaram com a participação da U.S.Navy.
A parceria entre nossas Forças de Submarinos abre as portas para o planejamento e realização de exercícios que permitem aos nossos meios testar a efetividade de nossas táticas e doutrinas contra uma Força que opera no Estado da Arte da Guerra antisubmarina.”
Esse intercâmbio tem me proporcionado experiencias gratificantes como a oportunidade de participar no planejamento de exercícios de resgate de tripulações de submarinos; visitar um submarino da Classe Virginia, cujo projeto incorpora tecnologia de ponta sob uma gestão focada em redução de custos. O contato direto com o Estado-Maior do COMSUBLANT e oficiais da U.S. Navy me possibilitam a observação de suas práticas administrativas”, disse o CMG Amilton.
Convém ressaltar que a Marinha do Brasil foi a primeira Marinha Sulamericana a possuir um Oficial de Ligação junto ao COMSUBLANT. Atualmente a Marinha do Peru também possui um Oficial de Ligação junto àquele comando.
Oficial de Ligação junto ao Comando das Forças Navais da U.S. Navy (U.S FLEET FORCES COMMAND-USFFC)
O Capitão de Fragata Alessander Felipe Imamura Carneiro é o Oficial de Ligação junto ao Comando das Forças Navais da U.S. Navy (U.S FLEET FORCES COMMAND-USFFC), participando do Programa para Oficiais de Ligação Estrangeiros “Foreign Liaison Officer Program” (FLO Program) do USFFC, representando os interesses navais da Marinha do Brasil junto aquele comando.
O FLO Program, fruto de um memorando de entendimentos assinado entre os comandantes da US Navy e Marinha do Brasil em 2013, promove um compartilhamento de experiências e conhecimentos profissionais entre as Marinhas participantes, facilitando o relacionamento entre as Forças. Entre as principais atividades desempenhadas cabe destacar:
• Cumprimento do Ciclo Bianual de Visitas à Organizações Militares das FFAA dos EUA (com ênfase nas unidades da U.S. Navy) e instalações de defesa e do governo:
• Participação em cursos e estágios no âmbito do USFFC;
• Apoio à visita de comitivas e navios da Marinha do Brasil à Norfolk, Va.
• Participação em conferências, simpósios e exposições relacionadas à assuntos militares e embarque em meios da U.S. Navy e,
• Participação em reuniões semanais sobre assuntos político-militares (“Pol-Mil discussion sessions”) coordenadas pelo analista de assuntos político-militares do USFFC.
“O U.S. Fleet Forces Command é um Comando de Força diretamente subordinado ao Chief of Naval Operations (CNO) da U. S. Navy , que tem, entre suas atribuições, a tarefa de treinar, certificar e prover forças navais aos Comandos Combatentes dos EUA , para que estes sejam capazes de realizar operações navais, conjuntas e combinadas em defesa dos interesses do país. Por intermédio desse intercâmbio, o Oficial de Ligação tem a oportunidade de angariar uma vasta experiência, observando como a U.S. Navy atua nesse nível de estrutura, lidando com a necessidade de manter seus meios em elevado estado de prontidão para pronto emprego.”
“Esse programa possibilita à U.S. Navy compartilhar o seu modus operandi, o que contribui para a interoperabilidade em eventual participação de meios da MB em exercícios, operações, adestramentos, ou até mesmo em uma possível integração de um navio brasileiro em uma Task Force da U.S. Navy. Nesses casos, o Oficial de Ligação atuaria como um facilitador nas interações entre a U.S. Navy e a MB.”
“A estratégia marítima americana (1) observa a manutenção da presença em diversas áreas do globo, simultaneamente, a partir de uma doutrina expedicionária, o que aponta para o estabelecimento de parcerias como fundamental para se garantir a hegemonia no mar. Esse Programa, sem dúvida, também contribui para essa aproximação. De acordo com a nova Avaliação de Estrutura da Força (Force Structure Assessment – FSA), divulgada em dezembro de 2016, a US Navy concluiu que necessita de 355 navios, em contraposição aos atuais 275. Em consequência dessa defasagem, alguns períodos de Deployment têm sido expandidos, impactando nos períodos de manutenção e na qualidade dos mesmos.”
“O sistema logístico da U.S. Navy é impressionante. Manter navios por até 190 dias no mar, em uma mesma comissão, é um grande desafio logístico e entender o funcionamento dessa estrutura é muito importante também.”
“Semanalmente, os oficiais de ligação estrangeiros, dentre os quais o brasileiro, participam de reuniões de alto nível com o analista de assuntos político-militares da USFFC, quando são discutidos assuntos relacionados à postura dos EUA em relação a topicos atuais, o que permite a ampliação do conhecimento sobre o visão da U.S. Navy a respeito de tais assuntos”, disse o CF Imamura.
O Programa possui um calendário de visitas ao longo ano, incluindo navios da U.S. Navy (navios-aeródromos, cruzadores, contratorpedeiros, navios-anfíbios e submarinos) e diversos comandos e unidades distribuídas por todo os EUA.
(1) Assim define-se a postura da U.S. Navy no documento “Uma Estratégia Cooperativa para o Poder Marítimo do Século XXI” – “As forças navais destacadas e estacionadas em posições avançadas usam os recursos globais comuns como meio de manobra, garantindo o acesso a regiões ultramarinas, defendendo interesses importantes nessas áreas, protegendo os nossos cidadãos no estrangeiro e impedindo os nossos adversários de utilizarem os oceanos do mundo contra nós”. Acesso em 22 de maio de 2017.
Oficial comissionado à bordo de navio da U.S. Navy
O Capitão de Corveta Almir Carrilho Pinto da Fonseca serve à bordo do USS San Antonio (LPD 17), um Amphibious Transport Dock também chamado de Landing Platform Dock (LPD), e sua missão inclui a efetiva participação na rotina administrativa e operativa do navio.
O CC Almir obteve qualificação a bordo do USS San Antonio em diferentes atividades como:
• Auxiliar do Chefe do Departamento de Convés;
• Oficial de Quarto;
• Oficial de Segurança das estações de recebimento de carga / óleo no mar;
• Oficial de Segurança do Convés Doca;
• Oficial de Segurança do Passadiço;
Além de ter participado de cursos e adestramentos à bordo do USS San Antonio e em Comissões Operativas de longa duração.
Para habilitar-se ao exercício das funções acima listadas o CC Almir se submeteu aos mesmos padrões de exigência estabelecidos para os oficiais da U.S. Navy.
Como foi sua experiência em ser um oficial em intercâmbio embarcado num navio de guerra da US Navy?
“O intercâmbio consiste em um Oficial da Marinha do Brasil servir à bordo de um Navio da US Navy e, como contrapartida, um Oficial da US Navy também servir à bordo de um navio da Marinha do Brasil. O período total do intercâmbio é de 2 anos e consiste em acompanharmos tanto a rotina operativa, quanto a rotina administrativa, seja em regime de viagem ou em regime de porto, exercendo, efetivamente, uma função a bordo prevista na Tabela de Lotação (TL) do navio e cumprindo todos os requisitos de qualificação exigidos para os oficiais da US Navy.
Este intercâmbio é uma valiosa oportunidade para observer , in loco, a atuação de uma Força que opera no “estado da arte”, atuando no enfrentamento de diversos tipos de ameaças. Assim, tive a oportunidade de trabalhar, lado a lado, com a maior Marinha do mundo, operando com o que há de mais atual em termos de equipamentos e procedimentos, bem como estar a par dos novos tipos de ameaças que estejam surgindo e das doutrinas, procedimentos e medidas que são adotadas para se contrapor a essas novas ameaças. Desta forma, trazemos lições que, adaptadas a nossa realidade, contribuirão para o engrandecimento da nossa Marinha.
Após passar por um processo seletivo, recebi a missão, no dia 25 de maio de 2016, de me apresentar, até 09 de junho do mesmo ano , à bordo do USS San Antonio (LPD 17) .No dia 25 de junho, suspendemos para a Comissão Deployment-2016, retratando uma das mais fortes características da nossa profissão de militar, pois , em 2 duas semanas , já estava morando em outro pais e, duas semanas após minha chegada, já estava demandando as áreas de operações das 5ª e 6ª Frotas Americanas.
Até o presente momento, o ponto alto do intercâmbio foi a Comissão Deployment-2016 , que teve inicio em 25 de junho de 2016, quando suspendemos da Naval Station Norfolk para compor o WASP Amphibious Ready Group (ARG) , na área de operações das 5ª e 6ª Frotas , com a missão de apoiar operações de segurança marítima. Dentre os principais eventos ocorridos durante a Comissão , podemos citar : o exercício conjunto entre os Marines do 22º MEU (Marine Expeditionary Unit) e soldados da Forca de Defesa de Israel; exercícios ,no mar, de integração entre equipes médicas da Forca Aérea e da Marinha Americana; ação de presença no Golfo de Aden , em apoio ao combate à pirataria; realização de exercício de evacuação de não-combatentes em Muscat, Oman; evacuação aeromédica de um tripulante do Navio Mercante Fernando , de bandeira da Libéria , que foi levado para tratamento em Muscat, Oman; e a tentativa de engajamento do USS San Antonio por dois mísseis vindo do Iêmen.
Ainda atracados em Manama (Bahrain), recebemos a notícia de que o Navio da Marinha dos Emirados Árabes Unidos, HSV-2 Swift havia sido engajado , em 1 de outubro de 2016 , por um míssil antinavio disparado da costa do Iêmen, no Estreito de Bab el-Mandeb.
Este estreito é considerado um dos 5 mais perigosos locais que a US Navy opera como pode ser visto no vídeo abaixo.
Após o suspender, o navio recebeu a ordem de retornar ao Mediterrâneo. Além de adotar um guarnecimento especial para o trânsito, o destroyer USS Mason (DDG 87), foi designado para nos escoltar durante a passagem pelo Estreito de Bab el-Mandeb. Poucas horas após o início do transito, foi possível observar , do passadiço , o lançamento de dois mísseis pelo USS Mason, que interceptaram dois mísseis lançados a partir da costa do Iêmen, sendo possível observar as explosões .
Este foi o momento mais critico da Comissão, que levou o Comandante do Navio a postar a seguinte mensagem de agradecimento a todos os membros da tripulação:
“SAN ANTONIO Family and Friends:
I would like to take a moment to express how proud I am of the men and women of the SAN ANTONIO Team for their exemplary performance during our recent transit through the Bab al-Mandeb strait. Allow me to reassure you that all of your Sailors and Marines are safe and doing well. All hands had a huge role in guaranteeing SAN ANTONIO’s safety throughout the transit. Words cannot express how much I appreciate each and every one of your Sailors and Marines.
The transit was challenging and missiles were launched against the USS MASON and USS SAN ANTONIO. Our crew performed flawlessly in the defense of our ship. Per the Pentagon’s press release we will be ready and respond to any further threat to our ships and commercial traffic, as appropriate, and will continue to maintain freedom of navigation on the high seas.
I am extremely proud to be the Commanding Officer of such an exceptional warship filled with exemplary Sailors and Marines.”
D.W. Nelson
Commanding Officer
USS SAN ANTONIO (LPD 17)
Tradução livre:
“Gostaria de aproveitar este momento para expressar o quanto estou orgulhoso dos homens e mulheres da tripulação do USS San Antonio pelo seu desempenho exemplar durante nosso recente trânsito pelo estreito de Bab al-Mandeb. Permitam-me que vos assegure que todos os seus Marinheiros e Marines estão seguros e estão bem. Todos tinham uma enorme papel em garantir a segurança do San Antonio durante todo o trânsito. As palavras não podem expressar o quanto eu agradeço a cada um de seus marinheiros e fuzileiros navais.
O trânsito foi desafiador e mísseis foram lançados contra o USS Mason e USS San Antonio. Nossa equipe executou perfeitamente a defesa de nosso navio. De acordo com o comunicado de imprensa do Pentágono estaremos prontos e responderemos a qualquer ameaça adicional aos nossos navios e ao tráfego comercial de maneira apropriada, e continuaremos a manter a liberdade de navegação no alto mar.
Estou extremamente orgulhoso de ser o Comandante de um navio de guerra tão excepcional, cheio de Marinheiros e Fuzileiros Navais exemplares.”
Após 183 dias de Comissão e um total de 163 dias de mar, atracamos novamente na Naval Station Norfolk em 24 de dezembro de 2016. Para mim, além de todos os exercícios e eventos reais que participamos, a minha qualificação como Officer of the Deck Underway (Oficial de Quarto/Manobra em Viagem), foi extremamente desafiadora por todas as qualificações que devemos cumprir como pré-requisitos e, principalmente, por estar operando um dos navios mais modernos do mundo em operações reais sendo um dos responsáveis por mais de 1.000 militares a bordo”, disse o CC Almir.
Grande amigo Sena,
Agradeco pelas palavras e peco desculpas pela demora em responde-lo!
Um forte abraco e fique com Deus!
Parabéns aos oficiaus da MB !
Comandante Almir,
Você não tem ideia do orgulho que eu e minha família temos de te ver representando o Brasil e a Marinha do Brasil, em solo e mar estrangeiros, de forma tão excepcional. Você citou a oportunidade de observar o emprego de Forças operando no “estado da arte”. Porém, ao te enviar para essa comissão, tenho certeza que a Marinha do Brasil o selecionou por saber que você é um Oficial que opera no “estado da arte”. A superação de desafios e as tarefas bem cumpridas fazem parte do Oficial dedicado que você sempre foi.
Grande abraço, meu amigo!
Fair Winds and Following Seas.
Sena
Excelente ! E o USS San Antonio assim como todos os demais LPDs da US Navy tem sido destacados do “ARG” operando
sozinhos ou com outros navios, enquanto o terceiro membro do grupo o LSD que é menos capaz de operar independente
é mantido junto ao LHD/LHA.
Eh dificil para nos por muitas vezes tecer criticas construtivas a MB, mas qdo lemos q a mesma procura dentre seus meios humanos obter sempre a melhor qualificacao em favor da mesma e da nacao, nao posso deixar de tecer comentario elogioso e de orgulho. Como seria bom q sempre outras e melhores informacoes fossem publicadas. Parabens aos oficiais por elevarem o nome de nossa nacao de de nossa marinha (ou o que resta dela). Sds
Excelente matéria!! Nota 1000 para o DAN, sem palavras. Feliz em saber da participação dos brasileiros neste intercambio US Navy, poxa vida , um privilegio de treinar em navios de alto nível.
As vezes me pergunto se mesmo com os poucos exercícios que nossas FA fazem será que estamos com bom nível de prontidão e quando digo prontidão eu falo sobre este modo de agir dos americanos de estar sempre alertas como no caso dos mísseis disparados pelo USS Mason, será que nossa prontidão não esta ao nível dos militares dos EAU que teve seu navio engajado, ou outro exemplo muito comentado por nós leigos sobre a guerra das malvinas e as inúmeras falhas da Argentina na guerra ocasionando perdas preciosas de vidas e de meios de combate que pra mim acabou por fazer a Argentina a perder a guerra apesar de tantos atos de heroísmo e feitos dignos de comandantes e comandados bem preparados que sabiam o que estavam fazendo.
Pois é, acho que isso só vamos saber quando for necessário mesmo e ai pode ser tarde demais, mas se alguém tem alguma informação sobre nossa prontidão se realmente tem um ótimo nível ou se caso seja preciso vamos ser pegos com as calças na mão.