Por Francis Bogossian*
A Academia Nacional de Engenharia e o Clube de Engenharia – Brasil, entidades que tenho e tive, respectivamente, a honra de presidir, receberam o almirante de esquadra Bento Albuquerque, diretor-geral de Desenvolvimento Nuclear e Tecnológico da Marinha, que está à frente do Programa Nuclear da Marinha e do Programa de Construção do Submarino Brasileiro à Propulsão Nuclear, para mostrar à sociedade civil os esforços da Marinha para encarar desafios tecnológicos com tenacidade e patriotismo de profissionais de Marinha de Guerra em defesa da soberania nacional.
A diretoria-geral de Desenvolvimento Nuclear da Marinha agrega o Centro Tecnológico da Marinha, no Rio, e alguns institutos de ciência e tecnologia na área de simulação, tecnologia da informação, estudos do mar e sensores além da COGESN, criada para o desenvolvimento do Programa de Desenvolvimento de Submarinos.
O Brasil é o sexto país em extensão territorial, o que significa grandes reservas naturais e fronteiras com 10 países. Nossa economia está entre as dez maiores do mundo e é totalmente dependente do comércio, do qual 95% é feito pelo mar, sendo que 10% de carga mundial passam por portos brasileiros.
No que se refere à defesa vale lembrar que a Marinha, desde o início dos anos 2000, passou a mostrar a importância de nossas águas territoriais, batizando-as de Amazônia Azul, região vital para o futuro do país, por suas riquezas, linhas de comunicação marítima e por ser parte de nosso território.
A melhor defesa dessa área é através do emprego de submarinos, mas os convencionais têm limitações que só são superadas pelo uso da propulsão nuclear, que permite uma geração de energia de maneira independente do ar, a manutenção de maiores velocidades com uma mobilidade estratégica impressionante e permite que essa arma possa cobrir extensas áreas de operações, ou seja, o submarino de propulsão nuclear é uma arma de dissuasão notável.
O plano estratégico da Marinha, já na década de 70, indicava a necessidade de capacitação para projetar e construir submarinos de propulsão nuclear. Em 1979 foi iniciado o programa nuclear em parceria com o Instituto de Pesquisa Energética e Nuclear, a fim de dominar o ciclo do combustível e o projeto de reatores.
Mas o programa nuclear da Marinha não é apenas militar, mas de benefícios para a sociedade brasileira. Ele desenvolveu a capacidade de projetar e construir reatores e seus combustíveis, capazes de gerar energia, que é a base de desenvolvimento, embora, no Brasil, 76% da matriz energética advenham de hidrelétricas e apenas 2,2% sejam da energia nuclear. Isso parece um paradoxo, pois num país com a sétima reserva de urânio do mundo, a geração nuclear poderia ter papel importante na nossa matriz energética, provendo energia por 100 anos, ressaltou o almirante Bento, frisando entender que investimento em tecnologia nuclear é um compromisso com as gerações futuras, pois a diversificação da nossa matriz energética significa também segurança.
Outros impactos tecnológicos que o programa da Marinha trouxe ao país, nos últimos 10 anos, envolveu cerca de 700 empresas nacionais, 18 universidades e institutos de pesquisa e, pasmem, 5 mil empregos diretos e 12.500 indiretos.
Vale destacar o trabalho da Marinha junto às indústrias nucleares do Brasil em uma parceria de quase 20 anos, tendo sido já entregue à INB mais de seis cascatas que enriquecem o combustível para as nossas usinas nucleares de Angra dos Reis, sem falar na recente parceria com o Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação, bem como o Ministério da Saúde, mais recentemente, para o desenvolvimento de reator nuclear de pesquisa e produção de radiofármacos.
Para dar força ao programa, a atual prioridade da Marinha é construir a planta de propulsão em terra, o chamado Laboratório de Geração de Energia Nucleoelétrica, com o início de operações previsto para 2020, cujo primeiro teste foi em 2018.
A criação e a efetivação da nova Agência de Segurança Nuclear e Qualidade, em fevereiro, foi marcante para o licenciamento das nossas instalações e de nosso submarino.
Em 2008 foi assinado acordo com a França para a construção dos quatro submarinos convencionais e um à propulsão nuclear (cujo projeto básico foi certificado em 2017). Esse acordo permitiu à Marinha retomar o projeto e construção de submarinos no país, além de formar e treinar técnicos e engenheiros no exterior, constituindo um patrimônio intangível, pois temos hoje na Marinha 1.140 funcionários altamente qualificados.
Nosso programa nuclear, que teve início em 1988, está dentro dos preceitos legal e constitucional. Já fomos sujeitos a mais de 300 inspeções anunciadas e não anunciadas de Agência Internacional de Energia Atômica e de Agência Brasil Argentina de Contabilidade e Controle, sem nenhum incidente.
A palestra do almirante Bento Albuquerque, que estou tentando reproduzir, retrata que a Marinha do Brasil busca o desenvolvimento da nação, um Brasil melhor para as futuras gerações e de forma transparente, mostra o cumprimento de nossas responsabilidades perante a comunidade internacional.
* Presidente da Academia Nacional de Engenharia
FONTE: JB
Parei de ler em “O Brasil é o sexto país em extensão territorial”… Tal desinformação desqualifica totalmente o resto do texto…
Interessante é que o amigo acima pensa que entende mais que AIEA – Agência Internacional de Energia Atômica…
Caro Leonardo, em qual momento eu disse entender mais do que a Agencia? Em nenhum momento declarei isso. O que eu sempre falo não é de minha autoria. Eu não “escrevo por escrever” sobre a nomenclatura da energia atômica, ela é baseada em consultas.
O objetivo de se usar a energia atômica nos submarinos é mais tática (e até estratégica) do que científica já que se pretendia evoluir a capacidade dos submarinos frente aos recursos anti-submarinos (obter maior velocidade) encontrando uma solução para a dependência do oxigênio e do abastecimento do submarino, diminuindo sua vulnerabilidade. O precursor da ideia em ser independente do ar foi o Peróxido de Hidrogênio do Sistema Walter alemão. Mas essa solução era perigosa por ser instável já que a substância era explosiva quando a temperatura superasse 93 graus. Ele emitia gases venenosos.
Depois que as bombas atômicas foram usadas, pensou-se em usar essa fonte energética controlando a reação química em um reator, possibilitando uma fonte inesgotável de calor sem a dependência de oxigênio. Portanto o reator é uma fonte de energia térmica auto suficiente independente de oxigênio e combustível para que o submarino fique indefinidamente submerso. Onde há fumaça há fogo, se há fogo é porque tem combustível como um dos ingredientes para a chama. Uma das minhas fontes chamado Significados/fissão nuclear diz claramente “não emite gases”. E porque não emite gases se a matéria prima seria combustível?
Combustão é o consumo de um objeto inflamável, mas as pastilhas dos reatores são trocadas depois de um período de uso. Isso tem que fazer sentido! Uma das vantagens do submarino atômico é justamente o fato dele não emitir fumaça que denuncie sua presença. Portanto, deduz-se que energia nuclear e combustível são incompatíveis. Por isso critico tanto palavras com esse adjetivo: combustível nuclear e elemento combustível. Recomendo inclusive aos editores do site lembrarem de perguntar á Marinha quando tiverem a oportunidade em um evento do submarino, como o corte da primeira chapa ou outro fato relacionado diretamente ao reator, qual estimativa eles tem da emissão de fumaça que o Alvaro Alberto emitirá no primeiro ano de operação do navio.
Enfim Leonardo, não se trata de saber mais do que um órgão internacional e sim ter uma noção lógica de como funciona um sistema atômico.
“Construir reatores e seu combustível”, “enriquecem combustível”, “comunicação marítima” etc. Quem acompanha o DAN sabe o que penso sobre essas denominações equivocadas seja vinda da própria Marinha e engenheiros, no caso, seja vindo de leigos, então não serei repetitivo sobre isso.
O conteúdo tem um aspecto mais informativo/promocional do que evolutivo em termos de novidade do tema. É como se estivesse informando uma pessoa que chegou agora nesse tema.
André,
Esse texto foi publicado no JB, que é voltado ao público leigo, então, possui uma abordagem mais simples que as demais publicações sobre o tema ou as nossas matérias próprias.
Abs,
É justamente aí que está o problema Guilherme, essa disseminação de informações mau feitas é que alimenta a cultura do “combustível nuclear” e “mar brasileiro”. Perceba que nunca se divulga a palavra fissão (nuclear), é sempre combustível. Mesmo uma abordagem mais básica e intermediária do assunto precisam eliminar esses vícios de linguagem, como o mar brasileiro (e até americano que possui duas costas oceânicas). Quem é acostumado a falar performance achará estranho a versão portuguesa da palavra que é desempenho. Peca-se por uma fonética diferente em nome de um hábito cultural difundido pela mídia.