Por Ten Jussara Peccini
O Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek, em Brasília (DF), deve iniciar a operação de pousos simultâneos independentes (quando dois aviões poderão pousar ao mesmo tempo no aeródromo) no primeiro semestre deste ano. Nesta semana a Agência Nacional de Aviação Civil homologou a cabeceira da pista 11 direita para pousos de precisão. O sistema de pouso de precisão por instrumentos (ILS – Instrument Landing System, equipamento que fornece informações de eixo e rampa para o piloto) é um dos requisitos para operações simultâneas independentes.
Já as decolagens simultâneas independentes devem ser reativadas em até quatro meses. “Estamos aguardando o parecer do órgão regulador central [Departamento de Controle do Espaço Aéreo – DECEA] sobre a análise de segurança”, afirmou o Comandante do Primeiro Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (CINDACTA I), sediado em Brasília (DF), Brigadeiro do Ar Gustavo Adolfo Camargo de Oliveira.
Em 29 de fevereiro as operações de decolagens simultâneas foram suspensas depois do registro de dois incidentes. Nos dois casos (22 e 29 de fevereiro) os controladores de tráfego aéreo agiram imediatamente e evitaram problemas mais graves. Segundo o comandante do CINDACTA I, as avaliações indicam que nos dois casos houve erro humano do operador ao inserir os dados no sistema de administração de voo. “Decidimos suspender para entender o que estava acontecendo”, explica o comandante.
Uma medida que pode ser adotada é a nova nomenclatura dos procedimentos de saída para cada cabeceira. O objetivo é reduzir a possibilidade de os operadores confundirem os comandos de saída. Caso isso ocorra, as cartas serão republicadas e toda a comunidade aeronáutica informada. Depois da suspensão, o CINDACTA I também realizou reuniões com associações de operadores, como ABEAR (Associação Brasileira das Empresas Aéreas), taxi aéreo e aviação geral, para reforçar as orientações sobre as operações simultâneas independentes.
Entre 12 de novembro de 2015 e 29 de fevereiro de 2016, período em que a operação de decolagens simultâneas independentes ficou em vigor no aeroporto internacional Juscelino Kubitschek, estima-se que foram realizadas 14 mil decolagens. Não há dados sobre quantas foram simultâneas.
Arquivo Cecomsaer/Sargento JohnsonVantagens da operação simultânea independente – De acordo com o Anuário Estatístico de Tráfego Aéreo, elaborado pelo Centro de Gerenciamento da Navegação Aérea (CGNA), em 2015 o aeroporto de Brasília registrou 199.246 mil movimentos aéreos, tornando-se o terceiro maior aeroporto do país.
Mais do que decolar ou pousar ao mesmo tempo, a operação que dá independência às duas pistas aumenta a capacidade de operação do aeroporto, especialmente nos horários com maior movimentação aérea, por volta de 10h e 17h. “É menos tempo de motor ligado, mais agilidade nas pistas de táxi e menos tempo de voo na hora de aproximação. Permite mais eficiência”, explica o Brigadeiro Gustavo sobre as vantagens econômicas e operacionais.
Atualmente, o aeroporto tem capacidade para realizar 62 decolagens por hora na capital federal. O que significa uma decolagem por minuto. A operação independente permite ampliar a capacidade para até 80 decolagens por hora.
Quando a operação simultânea é ativada, a torre de controle de tráfego aéreo trabalha com duas equipes: uma voltada para a pista sul e outra para a norte. Ou seja, é como se houvesse duas torres em ação.
Os principais hubs internacionais e os maiores aeroportos do mundo realizam operações simultâneas independentes. De acordo com Airports Council International (ACI), os três dos maiores aeroportos do mundo usam essa ferramenta: Atlanta (Hartsfield-Jackson), nos Estados Unidos; Pequim (Beijing Capital International), na China e Londres (Heathrow), na Inglaterra. Os locais jamais alcançariam essa posição se não operassem com pistas paralelas independentes que viabilizam uma elevação significativa de embarques e desembarques.
Preparação – A preparação para Brasília realizar a operação simultânea independente foi de dois anos. De acordo com a Organização da Aviação Civil Internacional (OACI), um dos critérios de segurança é que a separação entre as pistas precisa ser de pelo menos 1.310 metros. Em Brasília, a distância é de 1.810m, ou seja, 500 metros a mais do que o mínimo exigido.
Houve divulgação da circular de informações aeronáuticas, redesenho e publicação das cartas de aproximação e partida, os controladores de tráfego aéreo foram treinados em simuladores.
Antes de efetivada a retomada das operações simultâneas independentes, os controladores devem passar por uma reciclagem.
Fonte: Agência Força Aérea